sábado, 9 de outubro de 2010

Equilíbrio: relação entre doença periodontal e diabetes

 


Para finalizar o Por uma boa causa deste mês, que destacou alguns aspectos a respeito da saúde odontológica, a editoria discute a influência da diabete no meio bucal. Caracterizada pela deficiência de produção e/ou de ação de insulina, esta doença, que acomete 8% da população adulta, faz com que seu portador apresente um risco 2,5 maior do que o paciente não-diabético de se tornar um doente periodontal.
O quadro periodontal é a sexta causa de doença em diabéticos. “Devido ao problema da hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) há o espessamento dos vasos, o que gera não só a difícil circulação das células de defesa, como também um comprometimento das fibras que são responsáveis pela regeneração tecidual”, explica Anna Thereza Tomé Leão, professora da faculdade de Odontologia.
Assim, o meio bucal torna-se mais susceptível à placa bacteriana, causadora da gengivite e periodontite, que acomete todo o sistema de sustentação dos dentes: gengiva, osso e ligamento periodontal. O diabético não-controlado, no entanto, ao se encontrar nesse quadro clínico, pode gerar complicações, como a perda de dentes e xerostomia, que pode causar dificuldade em falar e comer.
Segundo Anna Thereza, o paciente, por possuir maior facilidade de evoluir a doença periodontal e por ser diabético, tem uma resposta insuficiente a ela, se encontra em maiores chances de perder os dentes, porque todo o sistema de suporte vai estar envolvido e prejudicado pela placa bacteriana. Já a xerostomia - diminuição do fluxo salivar – é altamente prejudicial, uma vez que ela protege os dentes e a gengiva. A saliva funciona como uma solução tampão e bloqueia muitos desenvolvimentos dos processos microbiológicos, o que ajuda o organismo a combater essas bactérias. “Se a pessoa tem menos quantidade de saliva, as bactérias se aproveitam dessa situação e se desenvolvem com mais rapidez”, aponta.
Logo, o tratamento odontológico em indivíduos diabéticos só pode ocorrer se a doença sistêmica estiver controlada. A doença periodontal – ocasionada por infecção – não tratada regularmente, pode afetar a diabetes do paciente, de maneira negativa. Já, ao contrário, o diabético não-compensado agrava sua periodontia.
– Chama-se “medicina periodontal”; é como se nós pensássemos em uma via de mão dupla: caso uma delas seja comprometida, a outra, no fim das contas, também será. Os dois lados da corda têm que estar em equilíbrio -, enfatiza Hana Fried, professora associada da faculdade de Odontologia.
Antes de iniciar o tratamento, na anamnese, quando o diabetes é identificado, o que pode ser feito através de um hemograma, o dentista entra em contato com o médico do paciente para conhecer todo o histórico clínico do indivíduo. “Existe toda essa preocupação porque a diabetes não-compensada, durante a atuação do profissional torna a pessoa mais propensa a hemorragias e abscessos. Só há uma resposta satisfatória no tratamento com a diabetes controlada”, indica Hana Fried.
Para um bom resultado, é necessária ainda a conscientização do paciente – o que, de acordo com as professoras, é a maior dificuldade no processo. Elas sublinham que a disciplina é ponto fundamental. “Assim como o diabético precisa fazer uma dieta balanceada, o doente periodontal necessita de uma higienização bucal adequada, com escovação específica e utilização de fio dental”, lembra Anna Thereza.
Segundo a Associação Americana, o doente periodontal, em média, precisa ser visto a cada quatro meses – o que pode variar para mais ou para menos, dependendo da necessidade e resistência que o paciente apresenta ao tratamento. “Desse modo”, diz Hanna Fried, “O tratamento do paciente diabético que apresenta gengivite e/ou periodontite tem de estar sempre em manutenção, visto que essas doenças, com exceção da gengivite, não têm cura e uma pode agravar a outra.”
Por fim, a professora associada destaca que a odontologia não é mais uma área isolada. “Nós procuramos sempre nos conectar com os médicos de pacientes cardíacos, reumatológicos e imuno-deprimidos, além dos endocrinologistas – no caso da diabetes. Porque se as funções estiverem equilibradas, as respostas ao tratamento odontológico não diferem de um indivíduo normal para as dos que nos chegam com tais doenças”, afirma


Jefferson Carrasco

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